quarta-feira, 29 de maio de 2019

DOMINGOS JORGE VELHO 2 Nos Infernos dos Palmares!

Publicado em 15.03.2019
Domingos Jorge Velho e  seu Ajudante de Ordens - Antonio Fernandes de Abreu - Quadro de Benedito Calixto
Textos Originais de Afonso de Taunay - História Geral das Bandeira Paulistas.
"Sobremodo obscuros são os primeiros anos dos atos civilizadores do grande vale parnaibano do Piauí. Afazendado na confluência dos rios Parnaíba (rebatizado em homenagem às antigas corredeiras do Tietê em sua terra natal, Santana do Parnaíba SP) e Poty, deixou Domingos Jorge Velho aquelas vastas e férteis terras nortistas pela imprevisível aventura guerreira do Nordeste, indo perigosamente combater os tapuias cariris e os quilombolas negros, que assolavam aquela região aterrorizada!

 

No ano anterior comunicara o Governador pernambucano Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho ao Rei, que se malograra por completo a empresa intentada por certo paulista, que se prontificara a extinguir todo o gentio infestador da região. Nada fizera porém por não ter conseguido levantar tropa suficiente, estando os sertanistas ocupados na Guerra dos Bárbaros no Rio Grande e Ceará. Não se sabe quem seria este paulista. Naquela enorme região piauiense o único núcleo de importância era um arraial na recém-fundada capela da nova "Freguesia de Nossa Senhora da Vitória do Brejo da Mocha do Sertão do Piauí" (arre!), matriz de 24 palmos de comprido por 12 de largo, muros de taipas, teto de folhas e pindoba, primeiro edifício daquela que viria a ser Vila da Mocha, mais tarde, Oeiras". 
Desenho rústico e desprovido de perspectiva, quase naif, da Vila de Oeiras, antiga "Villa da Mocha", antes "Fazenda Cabrobó", a mais primitiva povoação branca do Piauí.
"Nas vizinhanças ficava o arraial do Apuçá, (quem preferiu dali se embrenhar pelo território do Maranhão), como descrevia o Padre Carvalho.
"nos olhos d'água a que vulgarmente chamam Brejo nos quais está situado o capitão-mor dos paulistas Francisco Dias de Siqueira com o arraial de tapuias com os quais faz entrada ao gentio bravo e lhe detém a entrada que pudesse atacar a povoação. Tem algumas plantações de farinhas, arroz, milhos, feijões e frutas, como bananas, batatas e tudo se dá com grande abundância, mostrando a fertilidade da terra e a incúria dos moradores que por sua preguiça não têm frutas de que vivam".
(Nota: A indolência indígena é assinalada em várias obras, inclusive transmitida aos descendentes nortistas dos dias atuais, testemunhado por médicos e missionários e outros agentes do Pará - onde só as mulheres trabalham, e os maridos fazem filhos para ganhar bolsa maternidade).
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A América, o Brasil e o tráfico africano. Os primeiros anos dos Palmares e as primeiras campanhas contra os quilombolas. Fernão Carrilho e os seus efêmeros triunfos. Recurso aos paulistas. O ajuste com Domingos Jorge Velho. Aniquilamento dos Palmares.
Moenda da cana - se não fosse pela escravidão dos canaviais, muitos já estariam mortos (e sem Salvação cristã), sem chance de sobrevivência na África, pois eram cativos derrotados e condenados à morte pelos seus rivais vencedores das suas permanentes guerras tribais de autodestruição, semelhantes às dos nativos brasílicos!
O Grill dos tapuias antropófagos, onde eram grelhados navegantes espanhóis, portugueses, padres e os próprios indígenas aprisionados. Este era o suposto "paraíso brasílico" preconizado pelos socialistas esquerdofrênicos: O INFERNO NA TERRA!
Nota: Convém lembrar, que talvez os piores  escravistas fossem os próprios escravizados tapuias brasílicos e negros africanos, muitos deles cruéis antropófagos que em seus hábitats deglutiam os cadáveres de seus prisioneiros em banquetes macabros, coisa que a maioria dos animais não faz, em profundo respeito à dignidade da própria espécie; faziam-se portanto, inferiores aos animais! Talvez a pena divina pelos seus crimes, tenha sido justamente a supressão da liberdade com muito trabalho, única forma de aprenderem humanidade e civilidade em "convívio social de racional trato", como justifica o heróico disciplinador dos sertões, Domingos Jorge em sua carta ao rei, mais abaixo. (Obs.: Note-se no texto pós-vitória dos Palmares, o seu amistoso trato e convívio com seus índios dispersos, a quem recolhia e devotava reconhecimento, amizade, e pacífico convívio, sem qualquer traço de discriminação racial (e até aparentamento, pois tinha um filho mameluco lutando ao seu lado). A guerra era feita unicamente aos instransigentes e beligerantes canibais, eles sim, contra toda tentativa de civilização e amizade!
 
[Antes dos portugueses se dedicarem ao tráfico dos escravos já eles, africanos, o faziam – e os que embarcavam tinham um prócere religioso a dar a bênção. Os africanos traficavam entre si – e os grandes parceiros dos nossos antepassados foram, precisamente, as autoridades (negras) locais. Sob pena de nenhum progresso humano ser possível – o progresso é sempre descoberta – há que assimilar – visceralmente – os conhecimentos que nos vão chegando. Mais. A África negra estava imersa numa vida espiritual tão tenebrosa que, mais que o comércio de seres humanos, era dependente das magia e feitiçaria – e era antropófaga em zonas que iam, ininterruptamente, desde o Senegal, ao longo da costa e para o interior, até ao norte de Angola (Zenza, Bengo), numa extensão de uma inadjectivável ingência. Vd., v.g., mapa da pág. 117 de “Antropófagos”, de Henrique Galvão, Editorial Jornal de Notícias, 1947. (Foto de capa acima)
A antropofagia era um problema de tal monta para as autoridades portuguesas que ainda na década de 1940(!) envidavam os mais apurados esforços para extirpá-la – e quando tal (esforço) se tornou penoso, os canibais foram desterrados para S. Tomé. “Com a penetração dos portugueses – cuja acção missionária se exerceu em grande extensão e profundidade – depois com a conquista e ocupação; mais tarde com a chegada à África de outros povos europeus – principiou a perseguição em regra à antropofagia e outros costumes cruéis dos congueses” (op. cit., pág 116). Em suma: canibalismo, guerras, magia, feitiçaria, um mundo anímico horrendo, serão preferíveis(?) à suposta “evangelização forçada” - (dita pelos socialistas ressentidos) – mesmo que tenha sido "tão forçada" como eles interpretam?]. (In "Moçambique para todos" https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/letras_e_artes_cultura/ )
Rugendas. A escravidão negra, feita pelos  próprios negros escravistas, vencedores nas autodestruidoras guerras tribais, vendendo seus semelhantes prisioneiros (quando antes não os deglutiam) aos navios mercantes, entre eles os judeus negreiros, traficantes de pau-brasil e açúcar  - faturando na ida e na volta - incrementando assim a produção de açúcar, seu mais rendoso ainda tráfico nos mercados internacionais altamente inflacionados! Outros escravos eram capturados pelos cruéis piratas árabes e mouros que se embrenhavam nas matas, para depois vende-los no litoral aos navios negreiros de variadas nacionalidades imperialistas envolvidas no mesmo tráfico. 
(Nota: Aliás, o grande projeto totalitário da globalização  imperialista é eliminar toda classe média, cultura, estética, fineza, nobreza, individualidade, intelectualidade, nacionalismo e patriotismo! Será o império das drogas (que já produzem e traficam desde o século XVIII), sexo livre, homossexualidade, pedofilia, irreligiosidade, bruxaria e com sorte, o renascimento do canibalismo generalizado - comunista é comedor de criancinhas, sim!, e com farofa e pimenta)! https://patriaflita.blogspot.com.br
Portugal: "Navegaire é preciso"!
"Desde que se lançara ao mar dos descobrimentos, três preciosos artigos procurara com afinco arrecadar para o Reino: ouro, escravos e marfim. Mostrou-se o extraordinário Infante de Sagres forte estimulador de tal comércio. Parece que desde 1443 se fixou a corrente escravista em direção de Lagos e Lisboa. Criou-se a Companhia de Lagos, e demais espanhóis, flamengos, italianos seguiram a esteira dos escravistas lusitanos. Em princípio do século XVI considerável massa africana já povoava Lisboa, Évora, Sevilha, como um avant-premiére do que viria a seguir nas Américas!

Engenho de açúcar de Pernambuco, o maior produtor do "ouro branco".
"Com o passar dos anos e o progresso das descobertas americanas, surgiu a imperiosidade da obtenção de braços para que tanta terra virgem fosse aproveitada. No Brasil não tardaram os primeiros povoadores a verificar que os "negros do gentio da terra" eram escravos muito inferiores aos "negros do gentio de Guiné". Por atavismo decorrente de condições multisseculares do seu continente, os africanos resignavam-se incomparavelmente mais à submissão do branco, do que os ameríndios habituados à vida patriarcal de seu regime tribal e fundamentalmente igualitário. E a corrente traficante africana impôs-se com verdadeira fatalidade à incipiente colonização brasileira". (Cujo preço social pagamos até hoje).
O "ENCOMENDERO", judeus traficantes de escravos ou "NEGREIROS".
"De que outro método seria possível aos colonizadores do Brasil lançarem mão a fim de se suprirem as necessidades do trabalho"? indaga o alto espírito de Oliveira Martins na mais lúcida pergunta. E a réplica cisatlântica a tal indagação, consubstancia-se no aforismo retumbante lançado há menos de um século por um estadista do Império: "o Brasil é o café e o café é o negro"! "Sem negros não há Pernambuco!" assim exclamava Antônio Vieira no século XVII.
"O Brasil é o café e o café é o negro"! "Sem negros não há Pernambuco!", diziam certos estadistas.
A Instituição Oficial do Tráfico Luso-Africano  e Seus Agentes Internacionais, Agiotas financiando Armadores e estes provendo navios aos traficantes: todos na mesma lucrativa "barca"!
"Já em 1514 parece que "entrelopos portugueses" (na maioria judeus negreiros de Fernando de Noronha) despejavam africanos no litoral brasileiro. Viviam também as Antilhas recebendo fartos contingentes servis africanos e Herrera proclamava: 
"es mas util el trabajo de un negro que de cuatro índios".
Se de um modo simbólico quisermos evocar por meio de atributos iconográficos as principais causas que levaram os brancos a despejar sobre a América os milhões e milhões (!) de africanos transportados pelo tráfico, bastar-nos-á enfeixar hastes de cana-de-açúcar e ramos de algodoeiro, galhos de cafeeiro e caules de fumo. Estas quatro culturas, sobretudo, valeram aos míseros africanos tal massa de males que a lembrança da sua implantação no solo americano trará sempre ao analista compassivo a impossibilidade da separação de sua existência a do martírio imposto à raça menos desenvolvida e portanto, menos armada e defensável do que a dos exploradores de seu labor forçado e cruel.
A cana era a principal promotora do escravismo, enriquecendo os produtores e principalmente os traficantes internacionais do "ouro branco".

Cana, a Grande Vilã do Escravismo
Das quatro, a mais nefasta pela ancianidade e vulto da extensão, foi a cana, escusado parece lembrá-lo. Em meados do século XVIII, afirmava um dos nossos cronistas, que de todos os ramos da indústria brasileira "era ela a que especialmente promovia o trabalho escravo". Parece que a certo Jorge Lopes Bixorda* coube, em 1538, a triste prioridade da abertura do tráfico entre os dois continentes do Atlântico Sul. De Pernambuco, onde o açúcar imenso rendia grande demanda, partiram exigindo o tráfico africano. Em fins do século XVI viveriam no Brasil dezesseis mil negros, para menos de sessenta mil brancos, dos quais dez mil em Pernambuco, três na Bahia, mil no Rio de Janeiro. Não se sabe quantos seriam os de São Vicente, Espírito Santo e mais capitanias. Não cabe na estreiteza deste nosso abstract ventilar o caso relativo à procedência territorial específica dos principais povos africanos introduzidos no Brasil. Lembraremos, de modo geral, que os escravos importados podem dividir-se em duas grandes massas: os super equatoriais do grupo daomeano e sudanês, encaminhados à Bahia e os bantus infra-equatoriais, mais frequentes em Pernambuco e Rio de Janeiro". 
*Nota: 0s aspectos lisbonenses-africanos não tardariam a se fazer presentes em certas cidades e regiões da colônia ultramarina. José Sylvestre Rebello e com ele Varnhagen aceitam, o que Taunay considera natural, a opinião "de que na frota de Cabral e nas dos demais primeiros descobridores já serviam escravos africanos" e, consequentemente com essas primeiras esquadras começaram a vir para o Brasil os negros da Africa. E Varnhagen, ao se referir à caravela estranha encontrada por Martim Afonso de Souza na costa da Bahia, em 1531, "entende que a mesma se ocupava do tráfico". Afonso de Toledo Bandeira de Mello ("O trabalho servil no Brasil, pág 42), cita que "Damião de Góis declara haver Martim Afonso de Souza trazido para o Brasil as primeiras peças da Guiné". Duarte Coelho, em 1539 reclamava negros para a lavoura canavieira de sua capitania. Em 1559, segundo João Fernando de Almeida Prado ("Pernambuco e as capitanias do Norte do Brasil") concedeu a rainha regente D. Catarina autorização a cada senhor de engenho para importar até doze africanos pagando apenas um terço do imposto devido. (In Alfredo Gomes, Revista do Inst. Hist. Geog. SP, #48 pg. 152).
Moinho de cana para produção de açúcar tocado por bois e manipulado pelos escravos.
A Produção Açucareira e sua Voraz Demanda Expandem o Tráfico Negreiro sob Os Invasores Holandeses
"No século XVII, e sob os Áustrias, intensificou-se o tráfico. Pensamos que de 1538 a 1601 as entradas anuais tenham alcançado uma média de três mil cativos e que de 1601 a 1701 tal número possa ter dobrado. (Piratas?) franceses, ingleses e sobretudo holandeses muito procuraram no primeiro quartel da centúria seiscentista valer-se da excelente presa que representavam os navios negreiros. Tentaram os batavos firmar-se no grande centro do tráfico que era a africana São Paulo de Loanda, mas sem sucesso.
Palmares - Luta ritual da Capoeira, invocando espíritos demoníacos através do batuque com pontos de Macumba.
Apesar da ocupação (judo-holandesa) da Bahia, de 1624 a 1625, crescia a produção açucareira. Em 1628 havia no Brasil 235 engenhos produzindo anualmente umas 700.000 arrobas. Em 1637 os governantes do Brasil neerlandês defendiam a opinião de que as lavouras canavieiras de Pernambuco exigiam anualmente quatro mil novos negros. De 1636 a 1645 desembarcaram 23.163 africanos, segundo Waetjen pouco mais de metade da cifra desejada. Expulsos os judeus e batavos holandeses, restaurou-se e estendeu-se a cultura açucareira. Em princípios do século XVIII existiam, segundo Antonil, 246 engenhos em Pernambuco, 146 na Bahia, 136 no Rio de Janeiro produzindo 1.295.700 arrobas. Devia a capitania pernambucana possuir a metade dos escravos africanos no Brasil, desde os princípios do século XVI, assinala a documentação. A frequência de evasões era grande, dos forçados às fornalhas dos engenhos, que tornavam o Brasil "o inferno dos negros" qualificado por (padre) Antonil".
Negros fugidos de Pernambuco aos Palmares, atacam populações rurais indefesas para matar, saquear e raptar mulheres, muitos sacrificados em rituais de Macumba e oferecidos a Ogum (In Mário D. Wanderley - pernambucano - "Domingos Jorge Velho"- A Editorial Distribuidora - S. Paulo 1930).

Os Holandeses Recrudescem a Fuga de Escravos para Os Quilombos dos Palmares
"Já no segundo quartel daquele século, verifica-se no Nordeste a existência de mocambos maiores e menores. A invasão neerlandesa provocou o crescimento(!) destes quilombos cuja existência começou a preocupar(!) seriamente até mesmo aqueles invasores estrangeiros. Em 1643 referia-se Nieuhoff aos quilombos de "Palmeiras" (sic) com quatorze mil escravos fugidos às lavouras pernambucanas. Calculara a população servil dos engenhos de Pernambuco em quarenta mil almas. Contra os palmarenses foram enviadas diversas expedições militares que segundo Barlaeus conseguiram extinguir os grandes quilombos mediante grande guerra e a subsequente dispersão daqueles canhemboras que conseguiram fugir da retaliação aos seus ataques às fazendas desprotegidas. Pensa Nina Rodrigues em sua notável obra "A Troia Negra" que por volta de 1650 os negros palmarenses se reagruparam, ficando em poucos anos muito numerosos, poderosos e... mais ameaçadores!

Palmares Passa a Representar Uma Ameaça Nacional!
E realmente a existência dos grandes quilombos da Serra do Barriga no atual território alagoano, passou durante quarenta anos a causar as maiores apreensões às altas autoridades e aos povos do Estado do Brasil. Em 1671 escrevia o Governador Geral Visconde de Barbacena ao governador de Pernambuco, Fernão de Sousa Coutinho, a propósito de que este lhe anunciara uma próxima campanha de repressão aos quilombolas. E relatava-lhe o êxito completo da expedição de Estêvão Ribeiro Baião Parente* contra os tapuias anaiós baianos, comentando: "os pernambucanos não são menos robustos que os paulistas e espero que neste emprêgo não desmereçam o conceito que V. S. tem de sua fama".
*Estevão Ribeiro Bayão Parente Governador da Guerra da Bahia tem link dedicado neste site. Antes de sua partida em socorro da Bahia, uma outra expedição comandada pelo ancião paulistano Domingos Barbosa Calheiros, havia sido dizimada pela traição de um guia nativo, a qual ele vingou, reafirmando a disposição civilizadora contra a barbárie.
Cogita-se a Recontratação de Estevão Ribeiro Bayão Parente, Mas a Possibilidade é descartada
"Em 1674, D. Pedro de Almeida, substituto de Coutinho, consultou o Governador Geral acerca da conveniência de se entregar a empresa aos paulistas, tendo em vista o fracasso das tentativas anteriores dos regionais. Respondia-lhe Barbacena, dizendo ser esta possibilidade pouco viável. Já haviam os paulistas de Baião voltado a S. Paulo "gente bastante voluntariosa" (ou autônoma, como sempre foram mediante foral real de tombo, jamais "colônia"). Difícil seria que aceitassem regressar ao Norte. Além disto sua especialidade era outra: a guerra ao gentio. Nunca haviam combatido negros aguerridos e bem fortificados (isto, porque instruídos e insuflados por um conselheiro vil, um "Aquitófel" ou Aitófel, II Samuel 17:21), judeu renegado e anticristão, segundo ainda o autor pernambucano Mário Wanderley, tendo já resistido vantajosamente a capitães de renome e chefes de consideráveis forças locais. Morreu Barbacena em 1675 sem haver presenciado qualquer vantagem séria sobre os canhemboras. Numerosas expedições, maiores e menores, com eles escaramuçaram. Entre 1668 e 1680 vinte entradas nada conseguiram de prático. Em Julho de 1676 confiou D. Pedro de Almeida o comando de forte coluna a Fernão Carrilho, bravo paulista, segundo Mario Wanderley, com grande prática da guerra contra os quilombolas da Bahia e de Sergipe.


A Contratação do Regional Fernão Carrilho Obtém Vitórias, mas Efêmeras.
Obteve grande êxito em campanhas ocorridas em 1677 e 1678. Como consequência deste triunfo presenciou o Recife, a 13 de Junho de 1680, estrondosa cerimonia: a festa de submissão dos reis pretos de Palmares ao governador de Pernambuco. Respiraram afinal aqueles povos! Já os moradores davam os caminhos por seguros e as fazendas por aumentadas. Mas a festejada vitória de Carrilho durou pouco. Ao Governador Geral comunicou o novo governador pernambucano, Aires de Sousa Castro, que os quilombolas novamente se reagrupavam, numerosos, sob a direção de diversos chefes, entre os quais um certo "capitão zumbi", sobrinho do ganalona Ganga Zumba, sob quem prestara solene vassalagem ao Rei de Portugal. Voltou Carrilho ao teatro da guerra, mas desentendendo-se com o novo governador D. João de Sousa, viu-se destituído do comando".

O Governador de Pernambuco Reconhece sua Inferioridade Militar e se Resigna em Convocar Os Paulistas
"A 13 de maio de 1685 assumia João da Cunha Souto Maior o governo de Pernambuco e prevenia a D. Pedro II o quanto os negros palmarenses estavam fortes e agressivos. 

Assaltavam fazendas, matando brancos e raptando brancas. 
Tornava-se a situação sobremodo grave, podendo arrastar a insurreição geral da escravatura negra pernambucana. Intenso era o clamor dos povos cada vez mais apreensivos ante tal possibilidade. Em 1686 chamou Souto Maior novamente a Carrilho, que não conseguiu  êxito total, mas obteve algum desafogo. A 11 de Março de 1687, desanimado com as perspectivas que se lhe amontoavam, escrevia Souto Maior ao Rei, dizendo-lhe que resolvera  afinal entregar aos Bandeirantes de Batalha Paulistas, a obra do arrasamento definitivo de Palmares!
"Tenho por sem dúvidas e segundo o parecer de todos, afirmar que só por êste meio (contratação dos paulistas) poderão os moradores de Pernambuco livrarem-se do pejo que esta má vizinhança lhes causa".
O Contrato Oficial de Domingos Jorge no Recife*
A 3 de Março de 1687 assinaram-se em Olinda as condições e capítulos pelos quais o governador Souto Maior concedia ao Coronel Domingos Jorge Velho poderes para conquistar, destruir e extinguir os negros rebelados dos Palmares. Contrato constante de dezesseis cláusulas. Forneceria a Real Fazenda armas de fogo, chumbo e pólvora e mais apetrechos bélicos, farinha, feijão e milho, e ainda mil cruzados de fazendas. Prometia o Rei quatro hábitos das três ordens a Domingos Jorge Velho e seus oficiais, legalizando por meio de sesmarias as terras de sua ocupação no Piauí, no Poti e no Parnaíba. Concedia ao cabo da tropa e seus oficiais perdão geral dos crimes e delitos que houvessem cometido, salvo quanto aos de primeira ordem (lesa-majestade). E se a vitória compensasse os esforços da campanha que se ia encetar, outorgaria Sua Majestade largas superfícies das terras ora ocupadas pelos canhemboras (quilombolas)". 
*Como não havia até então uma Guarda Nacional oficial e assalariada, recebiam prêmios pelos êxitos de seus Serviços e Riscos, de vida e bens, como empresários e patriotas que eram, mas que os esquerdopatas atuais costumam estigmatizar como "Bandeirismo de Contrato", para transformá-los em vulgares "mercenários". (Evangelho: "Digno é o trabalhador do seu salário" I Tm. 5:18).
As condições contratuais da Guerra
"Comprometer-se-ia Domingos Jorge a arrasar todos os quilombos palmarenses. Consentia em que dos prisioneiros, os antigos escravos fugidos ao cativeiro fossem resgatados pelos seus legítimos senhores mediante a paga de oito mil réis por cabeça. Do quinto dos aprisionados devido à "Real Fazenda", permitiria Sua Majestade que uma quinta parte fosse doada a ele, coronel Domingos Jorge, a fim de que a repartisse como bem entendesse. Os demais quatro quintos dos cativos pertenceriam legitimamente aos soldados paulistas que se comprometiam a não os vender em Pernambuco e sim no Rio de Janeiro e Buenos Aires. Devia ser imediato o início da campanha mas assim não sucedeu, por diversos motivos, mas principalmente por causa da ocorrência de dois temíveis surtos epidêmicos, de Varíola e Febre Amarela, sobretudo esta última, temível calamidade assoladora do Norte do Brasil. 

A Epidemia Amarela Interrompe a Campanha Militar
Desvanecida a tremenda epidemia da "bicha" amarelante, preferiu o Governo Geral adiar as operações contra os quilombolas, empregando primeiramente Domingos Jorge na mais urgente Guerra dos Bárbaros do Rio Grande e Ceará. Durante um quinquênio outras foram as passadas militares do sertanista, pioneiro do desbravamento do Piauí. A 3 de Dezembro de 1691 renovou o Marquês de Montebelo, governador de Pernambuco, o ajuste do seu predecessor. Em Setembro de 1692 prevenia a D. Pedro II (de Portugal) que Domingos Jorge partira para S. Paulo recrutando gente para a sua nova empresa. Começava bem, havendo já o sertanista alcançado vantagens em escaramuças preliminares da "cruel guerra encetada". As fases principais da campanha assim as resumimos:


A Partida de Domingos Jorge do Piauí Rumo aos Palmares
1-Partiu Domingos Jorge de suas terras do Piauí, onde já o haviam procurado os emissários de Souto Maior. 2-Era o mais importante de todos os paulistas assentados na região piauiense. 3-Dispunha de cinco ou seis vezes mais gente do que os demais povoadores juntos. 4-Formou uma coluna de duzentos espingardeiros, mil arqueiros, e um estado maior de oitenta e quatro bandeirantes que encabeçavam a soldadesca. 5-Pôs-se em marcha tal tropa ficando sobremaneira maltratada na jornada pelos sertões, faminta, sedenta, desamparada de recursos como jamais se vira coisa igual"! (quanta traição dos governantes portugueses e seus prepostos!).
Mapa da Guerra dos Bárbaros ou Açú
Domingos Jorge é Transferido Temporariamente para a Guerra dos Bárbaros No Rio Grande, Paraíba e Ceará
"De miséria e moléstia perdeu 195 homens e contou duzentas deserções. De repente foi a marcha interrompida pelo recebimento de uma ordem do Governador Geral, mandando que Domingos alterasse o rumo, a fim de combater os ferozes aborígenes Janduins do Nordeste. Obedeceu, travando então terríveis refregas com aqueles tapuias cariris. Só num combate à margem do Lago Apodi, contou a sua gente 43 mortos e 70 feridos. Entrincheirado no Apodi, ali recebeu nova ordem mandando agora que marchasse sobre Palmares. Isto o levou a nova jornada de cento e sessenta léguas através da mais inóspita região. Chegados aos Palmares tiveram os paulistas de pelejar contra inimigos numerosos e valorosos cujas traças e estratagemas desconheciam. E em terrenos muito fragosos e de ignota topografia. Assim mesmo conseguiram ocupar uns poucos postos avançados dos quilombolas.

As tropas de Domingos Jorge, extenuadas da marcha e da luta no Nordeste, sofrem revés nos Palmares.
Mas a coluna achava-se "muito destroçada de fomes e marchas" e assim determinou Domingos Jorge que se retirassem para o litoral "a refazer-se na praia de Paratagi". Ali se viu a braços com terrível penúria de víveres e completamente baldo de recursos oficiais e particulares, pois os moradores da região se mostravam sobremodo malevolentes em relação aos seus aliados naturais, a quem deveriam ajudar. Resolveu então Domingos Jorge renovar a investida dispondo então apenas de 45 brancos e 600 índios. Procurou forçar a estacada que defendia o grande quilombo, numa extensão de 2470 braças craveiras (8.151m) estacada a que completavam "redutos, redentes, fossos, guaritas e troneiras". Aos aproches fortificavam fojos guarnecidos de estrepes. Verificou o chefe bandeirante que com a pouca tropa de que dispunha, seria insensato um assalto a uma praça tão fortificada"!
Quilombos eram reforçados com torres de vigia para impedir o acesso das forças de segurança nacional enviadas contra eles, em função dos inúmeros assassinatos, sacrifícios e raptos de mulheres que vinham cometendo nas fazendas isoladas e desprotegidas.
Bloqueio do Quilombo à Espera de Reforços Militares das Forças Legais
"Assim do dia 10 de Novembro ao final de Dezembro de 1693, contentou-se em apenas bloquear o quilombo à espera dos reforços que lhe devia remeter o governador de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro. Chegaram-lhe enfim, vultosa tropa de linha, auxiliares, voluntários. Em fins de Janeiro de 1694, comandando três mil homens resolveu o mestre de campo dar um assalto geral. 
 
Começou construindo outra estacada envolvendo a primeira, de onde desfechou a 23 de Janeiro, a primeira grande investida cujos resultados não foram muito favoráveis, defendendo-se os palmarenses com singular empenho. A 29 ordenou nova avançada geral e Bernardo Vieira de Melo, comandante de considerável corpo pernambucano, conseguiu derrubar a cerca palmarense, tendo porém de bater em retirada logo após. Defendiam-se os sitiados desesperadamente mas a superioridade das armas dos brancos era extraordinária. Ao Zumbi, quase sem pólvora, o desalento inspirou o abandono do quilombo. Procuraria internar-se com a sua gente válida no longínquo sertão operando uma sortida em massa. Foi o que fez na madrugada de 6 de Fevereiro de 1694 perdendo então muitos dos seus, mortos e aprisionados. Caíra a cidadela negra! A 18 de Fevereiro, delirante, escrevia Caetano de Melo Castro a D. Pedro II comunicando-lhe "a feliz vitória não avaliada por menos que a expulsão dos holandeses". 
Nota de 5.000 réis, comemorativa da Grande Vitória da Intervenção Militar no Nordeste de Domingos Jorge Velho nos Palmares - libertando as populações brancas ameaçadas de extinção pela insurreição e ataques assassinos contra os assentamentos rurais desprotegidos...
A Iminência de uma Insurreição Geral no Brasil! Domingos Jorge Tranquiliza a Nação!
Fosse Domingos Jorge Velho batido, e infalível seria o levante de toda a população escrava do Brasil. Na expugnação do grande quilombo, quinhentos haviam sido os canhemboras mortos e 519 os aprisionados. Seguindo em perseguição aos fugitivos já Bernardo Vieira de Melo a muitos aprisionara. Criou-se a falsa lenda de que o Zumbi, ante a catástrofe de sua gente, suicidara-se, "atirando-se de alto penhasco" (mentirosa clonagem de Massada, um antigo epidódio israelita), "sendo neste gesto desesperado seguido por muitos dos seus" (que novela fantasiosa!). Parece que a Rocha Pitta (o cronista baiano sempre despeitado e denegridor em quase tudo que escreveu sobre os paulistas, veementemente inquirido por Pedro Taques) se deve a criação desta lorota repetida por autores setecentistas e mais tarde, infelizmente, por grandes escritores porém desencaminhados, como Southey, Nina Rodrigues e Oliveira Martins".


Desmascarado o Falso "Ato de Heroísmo de Zumbi": Foi na realidade Traído, Morto e Decapitado, sendo sua Cabeça exposta em Praça Publica de Olinda para escarmento dos demais escravos.
"Usando de sua notória prudência e capacidade, não aceitou esta falsa versão o inteligente historiador Varnhagen (Visconde de Porto Seguro). Documentos encontrados por Studart (Ceará) e Ernesto Ennes, também anulam totalmente a fantasiosa história clonada. Na realidade, Zumbi foi traído por um dos seus, morto a 20 de Novembro de 1695, por uma tropa comandada por André Furtado de Mendonça, um dos capitães auxiliares de Domingos Jorge. Sua cabeça remetida ao governador de Pernambuco, esteve exposta ao público em Olinda. Vencida a árdua campanha, Domingos Jorge Velho reclamou a recompensa a que ele e os seus tinham direito. Viu-se de início contrariado de modo mais vigoroso, por Caetano de Melo Castro (outro regional ressentido). Não distribuiu as sesmarias prometidas e quando muito, opinou para que o Rei concedesse ao mestre do campo um "hábito de Cristo com uma tença (pífia pensão) de cinquenta mil réis anuais". 

Ingratos e invejosos como sempre, Governadores Locais Tentam Desmerecer Domingos Jorge e sua Saga Libertadora.
"Aos seus oficiais "bastaria uma carta régia de agradecimentos"! Seu grande argumento era que o bandeirante se comprometera formalmente a destruir os quilombos só com os seus paulistas, quando no entanto precisara do grande reforço pernambucano. Seriam os paulistas uns setecentos homens mas dos quais apenas trezentos em estado de combater. E o contingente de Pernambuco elevava-se ao triplo do efetivo de S. Paulo. Esta questão das sesmarias, largo debate ocasionou entre os vencedores de Palmares e o Conselho Ultramarino, influenciado pelo injusto Melo e Castro. Tomou Domingos Jorge advogado em Lisboa e longo memorial endereçou a D. Pedro II. Principiou queixando-se de que ele e os seus haviam sido vergonhosamente lesados na distribuição dos escravos prisioneiros. Dos 519 tomados só haviam 374 chegado ao Recife. Fora o resto furtado em caminho. Vendidos em pública hasta, rendera a praça mais de quatro contos de réis e no entanto o governador só lhe entregara menos de um conto, alegando que o resto "se aplicaria a cobrir despesas da Fazenda Real"! (foi é para o "caixa dois", com certeza!)

Domingos Rememora aos Agentes "Esquecidos" Seus Sacrifícios em Prol Daquela Comunidade Ingrata e Despeitada
"E no entanto, durante o bloqueio de 1693, êle e sua gente não haviam recebido víveres de espécie alguma! Tiveram de alimentar-se de raízes de coroatá! Não cessara aliás, sua campanha com a queda do grande quilombo, pois teve ainda de perseguir os quilombolas fugitivos com os seus batedores Tabajaras, Oruazes e Cupinharós, exímios rastejadores. Acompadrara-se Melo Castro com o desembargador Cristóvão de Burgos Contreiras, antigo membro da Junta Trina que ao Brasil governara de 1675 a 1678. Homem de apetites insaciáveis, em 1683 obtivera enormes concessões territoriais em diversas capitanias inclusive uma de 1.306 quilômetros quadrados na zona palmarense. A área prometida a Domingos Jorge e aos seus correspondia a nada menos de 46.173 quilômetros quadrados quando todo o atual Estado de Alagoas conta 28.571. Naquela época nenhum valor tinha a terra deserta mas na zona palmarense havia embate de títulos. A 24 de Janeiro de 1698 mandou o Rei distribuir quatrocentas léguas quadradas ou 17.424 Km² ao mestre de campo e seus auxiliares". 

É Feita uma Partilha, Mas Bem Inferior à Prometida. O Invejoso Gov. Bispo de Olinda denigre a Imagem de Domingos Jorge, mas é desmascarado em carta direta ao Rei.
"Caberiam 1568 Km² ao comandante Domingos Jorge, que na assistência da campanha tanto se empenhara e merecera, devendo-se à sua disposição e valor, a vitória da guerra e destruição dos inimigos, cujas hostilidades tão formidáveis se tinham feito aos povos da capitania de Pernambuco; a ele e a Cristóvão de Mendonça concedeu o monarca a faculdade de criarem vilas. Fundou o mestre de campo o arraial de Nossa Senhora das Brotas, à margem do Paraíba e a 42 km do Atlântico, em terras ubérrimas, canavieiras e algodoeiras. Mas continuavam as suas pendências com o governador pernambucano e o Bispo de Olinda. Este em 1697 dele fez graves acusações a D. Pedro II a expender:
"Êste homem é dos maiores selvagens com quem tenho topado. Quando se avistou comigo trouxe consigo língua porque nem falar sabe" ...
Ao contrário desta afirmação, Washington Luiz, citando Ernesto Ennes, nos expõe a carta pessoal de Domingos enviada ao rei, em linguagem bastante fluente de um Português quase perfeito e assinada de próprio punho, com esmerada caligrafia:

"A carta de 15 de Julho de 1694, em que Domingos Jorge Velho, chamado a Pernambuco para combater a Tróia Negra, dos africanos em Palmares, dá-nos uma idéia do que seriam esses combates em “Guerras nos Palmares” vol. 1º, pág. 205 e seguintes, escreve ele textualmente ao rei: "... querem (os jesuítas) os fazer anjos, antes de os fazer homens" - ou trabalho, dever de todo homem!
“Primeiramente nossas tropas com que imos(sic) à conquista do gentio brabo desse vastíssino sertão, não é de gente matriculada nos livros de V. M., nem obriga por soldo, nem por pão de munição; são umas agregações (particulares) que fazemos alguns de nós entrando cada um com os seus servos de armas, que tem, e juntos imos (dito em portunhol) ao sertão deste continente não a cativar (como alguns hipocondríacos pretendem fazer crer a V. M.) senão a adquirir os Tapuias gentio brabo e comedor de carne humana para o reduzir ao conhecimento de urbana humanidade e humana sociedade, à associação (de) racional trato, para por esse meio chegarem a ter aquela, luz de Deus e dos mistérios da fé católica, que lhes basta para sua salvação, porque em vão trabalha quem os quer fazer anjos, antes de os fazer homens e desses assim adquiridos e reduzidos engrossamos as nossas tropas, e com eles guerreamos aos obstinados e resistentes a se reduzirem; e se ao depois nos servimos deles para nossas lavouras nenhuma injustiça lhe fazemos; pois tanto é para os sustentarmos a eles e a seus filhos como a nós e a nossos filhos; e isso bem longe de cativar antes de lhes fazer irreinuneravel serviço com os ensinar, lavrar, colher e trabalhar para seu sustento, cousas que antes que os brancos lhes ensinem eles não sabem fazer”... “Desta gente estava formado o meu terço a saber 800 e tantos indios e 150 brancos”. .. “de aqueles tenho perdido ao redor de 400, e destes não ha hoje bem sessenta que tudo têm destruido a guerra, a fome e as doenças”... “Dos brancos que comigo desceram poucos morreram, porém a maior parte deles vendo o pouco que lhes rendia esta guerra e que nem para os sustentarem lhes dava se espalharam a buscar seu melhor e em seu lugar me deixaram a esperança”... tendo largado tudo e me pôr a caminho ao redor de 600 léguas desta costa de Pernambuco por o mais aspero caminho, agreste e faminto sertão do mundo”."
Domingos Resgata Muitos de Seus Índios Trazidos do Piauí e Finda a Guerra, Ainda Faz Nova Missão de Rescaldo! 
"Homem do jaez daqueles espanhóis terríveis cujo lema se compreende já nos seus famosos versos: "A la espada y al compás más y más y más y más"! Localizou Domingos Jorge Velho em suas novas terras alagoanas, numerosos daqueles seus soldados trazidos do Piauí: cupinharós, oruazes, tabajaras, etc., a dedo escolhidos dentre aquele "gentio o mais valoroso guerreiro". E estes índios causavam muito sobressalto aos habitantes de Alagoas. A demarcação das sesmarias também provocou muitos incidentes graves. Uns dez anos sobreviveu Domingos Jorge Velho ao seu grande triunfo de 1694. Em 1704 era falecido, declarou sua viúva, quando numa petição confirmou que a primeira entrada do marido no Piauí fôra em 1662!

Os Valentes Paulistas Companheiros de Domingos
Dos paulistas, seus oficiais, nas campanhas do Nordeste e em Palmares poucos são conhecidos. Entre os de maior destaque cita-se Antônio Cubas e Simão Jorge Velho, morto em combate, seu filho natural Alexandre Jorge da Cruz, havido de uma tapuia; Gabriel de Góes que tragicamente morreria no Capão da Traição, morto pela traiçoeira ralé emboaba das Minas; Antonio Fernandes de Abreu, Miguel de Godoi de Vasconcelos, Bartolomeu e Domingos Luís do Prado, João Freire Farto, Simão Jorge Velho, o Moço. Perfila-se Domingos Jorge entre as personalidades mais eminentes do bandeirismo paulista:
"Um paulista será sempre um paulista, em qualquer parte que vá". 
Era paulista natural de Santana de Parnaíba, e seu nome está indestrutivelmente inscrito nos fastos da enorme zona delimitada pelo Parnaíba (do Piauí), o S. Francisco e o Atlântico. Foi inegavelmente possuidor dos maiores índices de energia e pugnacidade de sua casta bandeirante euroamericana. Em terra operou "como os antepassados o haviam feito na proa das naus, no alto das enxárcias, no cimo das vergas através dos mistérios tenebrosos do oceano", ainda no discurso do excelente historiador Ernesto Ennes".
"Onde não há negros, não há colônias", diziam.
O Historiador Taunay Inocenta Domingos da Acusação de Crueldade, Argumentando que ele Era Apenas Mais um Personagem de Guerra como Tantos Outros do Universo Pragmático e Indiferente de então. 
"Acaso seria a Guerra dos Palmares mais cruel do que  tantas  navegações dos tumbeiros de nações ocidentais abastecedoras de braços das colônias americanas? Imensa impressão deixou na mentalidade colonial esta guerra dos Palmares. Por mais de um século ressoou veemente, refletiu-se na obra dos nossos cronistas e dos autores estrangeiros que trataram do Brasil. É o que documenta a extensão das páginas em que se narram os acontecimentos da rebelião negra e da sua repressão. Evidencia-se aí uma como que solidariedade européia quanto ao que dizia respeito ao regime servil de suas colônias e de seu próprio continente onde em tão largas áreas reinava a servidão, grosseiro disfarce da escravidão com a agravante de que oprimia homens da mesma raça branca!!! "Onde não há negros não há colônias"!, trombeteava em uníssono aforisma, universalmente aceito em Lisboa e em Madri, em Londres e em Paris, em Amsterdam e Copenhague. Nada mais espontâneo e elucidativo do que as palavras pelas quais Caetano de Melo e Castro explicava o entusiasmo e o desafogo que ao Brasil havia trazido o triunfo de Domingos Jorge Velho: "feliz vitória que não se avalia por menor que a expulsão dos holandeses"." (1)
Edição reeditorada com texto revisado, atualizado e grafia corrigida do original de Afonso de Taunay em História Geral das Bandeiras Paulistas 11 volumes, pelo autor deste blog, com imagens e comentários.
(1) Vide [referências originais documentais] nos últimos capítulos do tomo sétimo da História Geral das Bandeiras Paulistas e na Primeira Parte do tomo oitavo da mesma obra.

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